In Line: A Life Style...

Nós somos assim: nada vem fácil, tudo é conquistado com muita luta e correria. Não temos o físico de aparência saudável do atleta padrão. Estamos ralados, inchados, doídos, sangrando. Cicatrizes por toda a parte. Nosso nutricionista é o dono do bar da esquina. Médico? Vi um ontem. Ele gritava: "Sai daí, vai quebrar toda a calçada!". Cuidamos da nossa saúde no altar, no terreiro, com gelo e água quente. Tomamos sol de calça jeans, sobre o concreto quente, pedindo, por favor, pra tomar água da torneira.

Nossas festas nem sempre são um sucesso. As meninas bonitas nem sempre aparecem, nem sempre acabam bem. Nossa música não está em primeiro lugar nas paradas. Provavelmente estará daqui a uns três anos, mas aí ela não será mais a nossa música. Estaremos ouvindo outra coisa.Se o que vestimos virou moda, não foi nossa intenção.Só precisávamos de liberdade nos movimentos.

Quase ninguém tem carro. Vamos a pé, de carona, na rabeira do ônibus, em cima do trem. No shopping, não somos clientes, somos suspeitos. Ninguém quer ficar muito perto no metrô. Às vezes é até bom. O walkman diz coisas melhores. Ipod?Ah, faça-me o favor. Isso é coisa de televisão. Assim como o glamour, a fama, a realização. Alguns até conseguiram, mas representam 0,0001% de nós. O que se vê fora da tela é dinheiro emprestado, peças trocadas, tênis furado. Olhamos para a cidade com outros olhos, procurando diversão, uma bela imagem, um lugar perfeito. Uma escada suja serve de sofá para nossas animadas conversas. Se só dá pra ir de madrugada, 3h é como se fosse 15h. Se estiver chovendo? A gente volta amanhã.

Nosso campeonato não passa ao vivo na TV. Não tem hora pra acabar. Ganha quem suportar ficar até o final, com aquele buraco no estômago. A grana da volta está lá no pódio. Não vai bastar apenas ganhar o campeonato. Negociar a premiação vai ser fundamental pra voltar pra casa. Vença e venda tudo ou vai depender da boa vontade de alguém pra chegar em casa. Apesar de tudo, ultimamente, parece que estamos sendo aceitos. Aceitos não,desculpe, estamos sendo tolerados. Como uma doença incurável, com a qual só resta acostumar-se. Mas nós temos, mais do que todo o mundo: NÓS TEMOS UNS AOS OUTROS. NÓS SOMOS IN LINE!

BY: Nairon, atleta de São Luís do Maranhão.
Texto enviado para o "extinto" CUIAMAG

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